Postagem atualizada em 27/06/2015, às 12h 15min.
Logotipo da Sétima ONHB.
O preconceito e as suas muitas
manifestações ao longo da história do Brasil: esse foi o tema geral da 7ª
edição da ONHB (Olimpíada Nacional em História do Brasil), que consiste numa
competição entre equipes compostas por três alunos e um professor de História,
ambos da mesma instituição de ensino. Realizada desde 2009, a olimpíada tem por
trás de sua administração grandes profissionais do Departamento de História da
UNICAMP (Universidade Estadual de Campinas), e tem se tornado um grande sucesso
entre estudantes do Ensino Médio em todo o Brasil. Após a realização de cinco
fases via Internet, algumas equipes têm o privilégio de ir à 6ª e última fase
da competição, que ocorre na própria UNICAMP, em Campinas, São Paulo.
Eram exatamente 10.223 equipes, que
totalizavam 40 mil pessoas, espalhadas pelos quatro cantos do país. Com o
término da 1ª fase, restaram pouco mais de 9 mil equipes. Findada a 2ª fase,
sobraram 6.461. E, conforme as fases avançavam, a quantidade de equipes ia
sendo reduzida, até que, por fim, 302 foram convocadas, no dia 11 de junho,
para se fazer presentes na Grande Final, que ocorrerá no mês de agosto, na
cidade supracitada.
Na 4ª fase, realizada entre 25 e 30
de maio do corrente ano, foi solicitada as equipes a seguinte tarefa:
"entrevistar uma pessoa de seu círculo de conhecimento que já passou em
sua vida por alguma situação em que foi alvo de preconceito. Esta pessoa não
pode ser membro de sua equipe (nem aluno nem professor). A equipe tem que
entrar em contato com esta pessoa, pedir que ela relate o acontecido, e em
seguida escrever sobre isso." Assim, a minha equipe, cuidadosamente
batizada de "Ouriçar", resolveu entrevistar Augusto, um muçulmano de
linhagem sunita, que acabara de fazer parte do círculo de amizades dos membros
da equipe, e que, atualmente, vive em João Pessoa (Paraíba).
Membros da equipe "Ouriçar" fazem 'selfie' ao lado do entrevistado e de uma assistente, amiga da equipe.
Trazê-lo até a nossa cidade (Campina
Grande - PB) foi uma missão árdua! Contudo, por acreditarmos que o depoimento
dele seria crucial não apenas para garantir uma vaga na final do evento, bem
como para alertar a população sobre a triste existência desse tipo de
preconceito (religioso), batalhamos - contra o tempo e outros obstáculos - e
conseguimos realizar a entrevista! O resultado final desse encontro, você pode
conferir, na íntegra, abaixo:
"MUÇULDRAMA": A REALIDADE DE UM MUÇULMANO NA PARAÍBA
O satírico "Charlie Hebdo", em edições que ferem a liberdade de crença. Fonte: Blog Pragmatismo Político.
"Posso não concordar com nenhuma das palavras que você
disser, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las." Essa
frase, da escritora britânica Evelyn Hall, foi criada para mostrar, em síntese,
as ideias defendidas pelo filósofo Voltaire. Com ela, podemos defender um dos
assuntos mais evidentes na atualidade: a liberdade de expressão. Todavia,
devemos ter em mente que acima dela deve estar o respeito, devendo esse ser
considerado, inclusive, no âmbito religioso. Para fomentar esse posicionamento,
trouxemos até a nossa cidade, Campina Grande - PB, o muçulmano Augusto Barros
Corlet dos Santos, que tem pensamentos afins ao nosso.
Nascido em 1994,
no Rio de Janeiro, Augusto é filho de um policial e de uma promotora de
eventos. Atualmente, vive em João Pessoa-PB, é solteiro, estudante e sonha
tornar-se um agrônomo. "Cristão de berço", teve o primeiro contato
com o islamismo em 2010, enquanto fazia aulas de Box com o treinador Muhammad
Mesquita. Foi através desse professor que Augusto afirma ter conhecido a forma
mais completa de Deus. Também relata que, à época, além de o terem xingado,
membros de sua antiga religião afirmavam que ele iria para o inferno.
O estudante
levava uma vida normal, fazendo tudo o que indivíduos de sua faixa etária
fazem: estudar, praticar exercícios físicos, dividir as atividades domésticas
com a família, dentre outras coisas. Após a adesão ao islamismo, ele pôde
conhecer na pele o significado da intolerância. Certa vez, no Rio de Janeiro,
ao caminhar pelas ruas da cidade, foi duramente abordado por policiais, que
afirmavam o estar vigiando, pois suspeitavam que ele fosse um terrorista. Outra
vez, ao ir a um banco, os guardas fizeram um sinal entre si e apontaram armas
para ele: "foi muito constrangedor e humilhante", lembra Augusto.
Quando
questionado sobre os ataques terroristas ao jornal francês "Charlie
Hebdo", em janeiro deste ano, Corlet, que pertence à linhagem sunita,
comenta que a sua religião abomina todos os que tiram a vida de outras pessoas:
“O Alcorão, livro sagrado da religião, diz que devemos combater àqueles que nos
combatem, mas não com agressão. Eu combato o preconceito com o amor, com a
verdadeira palavra sobre o Islã.”. As charges, segundo ele, foram feitas
inteiramente com o intuito de provocar os islâmicos, que, por questões de
crença, não podem sequer abraçar outra pessoa em público. Deste modo, ilustrar
o profeta Maomé aos beijos com um homem, além de machucar os sentimentos dos
fieis, acabou despertando o ódio de pessoas inconsequentes. Infelizmente, a
liberdade de expressão e a convivência “pacífica” foram bastante prejudicadas
com tais eventos, pois, além de terem causado uma maior propagação do medo para
a sociedade, também alastraram mais fortemente o preconceito para com as
pessoas provenientes do Oriente Médio.
Para finalizar,
ele comenta que, visando minimizar esse tipo de preconceito, uma reeducação
para os veículos midiáticos poderia ser ofertada, por parte do governo, de modo
a fazer com que coisas boas sobre a religião fossem divulgadas. Nós da equipe
acreditamos que, nas escolas, poderia haver mais discussão sobre a contribuição
dos povos para a “evolução” do mundo, já que, como disse Einstein, "a
mente que se abre a uma nova ideia, jamais volta ao seu tamanho original";
afinal, o conhecimento pode eliminar a ignorância! Também seria interessante,
no ambiente familiar, haver uma reformulação dos conceitos que regem os valores
familiares, de tal modo a estimular o respeito aos diferentes e a tratá-los
como iguais. Assim, faríamos valer o 5º artigo de nossa Constituição, que nos
garante a liberdade de consciência e de crença. Salaam Aleikum (fiquem com a paz), olímpicos!
Membros da equipe
"Ouriçar" posam para foto ao lado do entrevistado, no "Parque da
Criança", uma área de lazer em Campina Grande. Da esquerda para a direita,
temos: Henrique, Pedro, Augusto e Natálya.
Imagem: Otaciana de Oliveira.
Agora, resta-nos estudar, torcer e se empenhar ao máximo para conseguir representar bem o nosso colégio (IFPB), e retornar ao nosso estado com uma das poucas e almejadas medalhas de ouro. Que assim seja! :)
Texto: Pedro Augusto